Segue
um breve conto, que faz parte do livro do psicólogo e facilitador de
Constelações Familiares Joan Garriga Bacardi, e que conta sobre os
princípios que regem as nossas relações interpessoais – desde a
primeira infância até os últimos momentos de nossa vida. É uma
parábola que fala das trocas relacionais e dos vinculos – de sua
força e capacidade para nos levar adiante e com suave movimento ou
manter-nos paralisados e engessados em situações repetitivas. Boa
leitura!
Onde
estão as Moedas?
As
Chaves do vinculo entre pais e filhos
"Numa
noite qualquer, uma pessoa, da qual não sabemos se é um homem ou
uma mulher, teve um sonho, um sonho com os pais.
Neste
sonho seus pais apareciam e lhe davam algumas moedas, não sabemos
quantas eram, se uma dúzia ou uma centena, nem de que metal eram
feitas, se eram de ouro, de prata, de cobre, de ferro ou mesmo de
argila.
O
sonhador as recebia de bom grado porque eram as moedas que seus pais
lhe davam, eram as exatas que necessitava e merecia, para levar sua
vida. Satisfeito agradeceu aos pais pelas moedas recebidas tomando-as
por inteiro.
E o sonhador (a) termina
a noite de sono tranqüilo (a), descansado e pleno. Ao amanhecer,
desperta bem disposto e resoluto em ir à casa dos pais para comentar
o sonho e agradecer as moedas recebidas.
Indo até os pais,
comenta o sonho e agradece as moedas recebidas, em profunda gratidão.
Seus pais, vendo a atitude do filho (a), sentem-se grandes, ainda
maiores e mais bondosos do que haviam sido e orgulhosos do filho (a).
Dizem-lhe então:
-
Estas moedas são para você, use-as como quiser e não precisa
devolvê-las, são nossa herança para você.
E
este filho (a) segue seu caminho satisfeito e pleno, capaz de
enfrentar e vencer qualquer desafio, com a certeza de haver recebido
as exatas moedas que necessitava e merecia de seus pais, suficientes
para empreender sua caminhada. De tempos em tempos volta-se para
trás, em direção à casa dos pais, e sente-se revigorado e pleno
para seguir e realizar sua vida.
Acontece,
que em outra noite qualquer, um outro sonhador (a) tem um sonho
parecido, que costuma acontecer com qualquer um de nós, mais cedo ou
mais tarde, de ter um sonho com os pais. Neste sonho, o sonhador (a)
recebe dos seus pais algumas moedas, que não sabemos se uma dúzia,
uma centena ou apenas umas tantas, nem de que metal eram feitas, se
de ouro, de prata, de cobre, de ferro ou mesmo de argila.
-
Estas não são as moedas que necessito, preciso e mereço, por isto
não as tomo e deixo-as com vocês. Se eu as tomasse minha vida se
tornaria pesada e, portanto, fiquem com elas.
E
este sonhador (a) segue pela noite intranqüilo, com o sono
entrecortado e desperta muito cedo, cansado e ansioso por ir até a
casa dos pais, contar-lhes a respeito do sonho.
Lá
chegando, diz aos pais sobre o sonho e que aquelas moedas não lhe
interessam, que aquilo que eles tinham para ele não eram as moedas
que ele (a) necessita e merece, deixando-as portanto com eles.
Os
pais ouvindo isto, tornam-se ainda menores, humilhados, como costuma
acontecer quando um filho (a) não toma seus pais, seus ensinamentos
e sua herança, tal como foi; e retiram-se para seu quarto.
E
este (a) sonhador (a), tomado de uma estranha força, sente-se
fortalecido e vingado, havendo acertado as contas com seus pais, e
sai para a vida decidido a encontrar suas moedas, as que justo
necessita e merece. Com alguém elas devem estar.
E
tomado por esta força, estranhamente falsa, vai pela vida em busca
de parceira (o), procurando pelas moedas que necessita e crê poderem
estar com ela (ele). As vezes tem a sorte de encontrar alguém e mais
sorte ainda desta relação durar algum tempo.
Quando
isto ocorre, com o passar do tempo o sonhador (a) percebe que sua
(seu) parceira (o) não tem as moedas que necessita e merece, e o
relacionamento perde todo seu encanto, ficando para trás. E o
sonhador (a) segue em busca de outra pessoa que talvez, desta vez,
tenha as suas moedas.
E
de relacionamento em relacionamento, segue em busca de suas moedas e
desencantos, porque nenhum deles tem as moedas que necessita e
merece.
Outras
vezes, o sonhador (a) tem um filho (a) e, ao engravidar, cria a forte
expectativa de que este filho (a) terá as moedas que necessita e
merece, e o (a) aguarda ansioso (a) e cheio (a) de esperanças. Mas a
vida é como é; os filhos crescem e seguem seus próprios caminhos,
e tampouco eles tem as moedas que o pai ou a mãe procuram.
E
nesta busca incessante, o tempo vai passando até que o desespero
toma conta: onde estarão minhas moedas, justo as que necessito e
mereço para levar minha vida.
Mas
há dois tipos de terapeutas: um que acredita que tem as moedas que
seu cliente procura; e outro que sabe que não as tem, mas está
disposto a ajuda-lo a procura-las.
Quando
tem a sorte ou a sabedoria de encontrar este segundo tipo de
terapeuta, dá-se início a um processo de auto-consciência e
aprendizado, onde o sonhador (a) vai percebendo aspectos antes
ignorados, apropriando-se de sua própria vida, pouco a pouco.
Até
que num belo dia o terapeuta se dá conta de que o sonhador (a) já
está pronto para saber onde estão suas moedas. E neste mesmo dia,
não apenas por coincidência, o sonhador (a) vem para a terapia e
diz:
E
resoluto (a), empreende o retorno à casa dos pais, em busca das
justas moedas que necessita e merece.
Chegando
à casa dos pais, arrependido (a) e amadurecido (a), toma-os por
inteiro, tal como foi, aceitando feliz e de bom grado as moedas que
eles tem para si, exatamente as que precisa, necessita e merece para
levar sua vida em plenitude.
E seus pais, reconhecidos
e aceitos inteiramente pelo filho (a), tornam-se ainda maiores, mais
dignos e responsáveis, podendo ser ainda mais generosos.E assim, o
sonhador (a) encontra seus caminhos, com a fortaleza da herança dos
pais: agradecendo a vida recebida; dizendo sim a tudo, tal como foi,
libertando-se de todas as mágoas, deixando as responsabilidades com
quem de direito; e tomando sua própria vida em suas mãos, com a
benção de seus pais, para que, agora possa buscar sua felicidade."
3 comentários:
Este conto foi muito útil para mim. Beijos.
Prezados, ao ler este conto foi para mim foi mais uma bela oportunidade que tive para ver de "o outro lado" posto que já estava me acostumando a me ver "de um lado só". A sabedoria pitada na parábola serve, para os que dela souberem extrair em sua sabedoria intrínsica,um sempre e bom renovado alento de poder rencontrar nossa riqueza bem no intimo de nossa pobreza.
Que bom! Realmente é um conto muito reflexivo! Este ano o autor, Joan Garriga, psicoterapeuta espanhol, estará promovendo uma série de palestras no Sul do Brasil e em São Paulo.
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