"O vínculo entre parceiros exige que o homem deseje a mulher como mulher
e que a mulher deseje o homem como homem. O vínculo não se estreita
completamente quando os parceiros se desejam por motivos diferentes: por
passatempo ao adorno, como provedores, por ser um deles rico ou pobre, católico
ou protestante, judeu ou muçulmano; porque um quer conquistar, proteger,
melhorar ou salvar o outro; porque um quer que o outro seja, sobretudo, pai ou
mãe de seus filhos. Parceiros que se juntam com esses objetivos em vista não
consolidam uma união capaz de resistir a crises graves. Se o homem continua a
ser um filho em busca de uma mãe e a mulher continua a ser uma filha em busca
de um pai, suas relações, embora afetuosas, não são relacionamentos de homens e
mulheres adultos. As pessoas que estabelecem relacionamentos na esperança,
reconhecida ou não, de que ganharão algo que não recebem do pai ou da mãe,
estarão, na verdade, procurando pais."
Homem
e Mulher: A base da família
"A base da
família é a atração sexual entre um homem e uma mulher. Quando um homem deseja
uma mulher, deseja aquilo que, como homem, lhe é necessário e não possui. Quando
uma mulher deseja um homem, também deseja aquilo que,como mulher lhe
falta. Macho e fêmea formam uma união de parceiros que se definem e completam
mutuamente. Um é aquilo de que o outro necessita e cada qual necessita aquilo
daquilo que o outro é. Para que o amor tenha êxito, precisamos dar o que somos e
receber do parceiro aquilo de que necessitamos. Dando-nos, recebendo e possuindo
o parceiro, tornando-nos homem e mulher, e formamos um casal.
A
expressão amorosa, na intimidade sexual (e ás vezes,apenas o inter curso
sexual), frequentemente liga os parceiros, quer eles queiram, quer não. Não é a
intenção ou a escolha que estabelece o vínculo, mas o próprio ato físico. Essa
dinâmica pode ser observada no sentimento de proteção que algumas vítimas de
estupro ou incesto experimentam para com os agressores e nos encontros sexuais
casuais que deixam traços duradouros.
A
vergonha de mencionar e reconhecer esse aspecto muito íntimo do relacionamento
de um casal prende-se ao fato de a paixão sexual ser vista ainda,em certos
círculos,como algo abjeto e indigno. Não obstante isso, a consumação sexual
constitui o maior ato humano possível. Nenhuma outra ação humana está mais em
harmonia com a ordem e a riqueza da vida, expressa melhor nossa participação na
totalidade ou traz consigo prazer tão intenso e em consequência, tão delicioso
sofrimento. Nenhum ato oferece tantas recompensas ou acarreta tantos riscos,exigindo
mais de nós e tornando-nos sábios,compreensivos e humanos,quanto a tomada do
outro, o conhecimento do outro e a união com o outro no amor. Comparativamente,
as outras atividades humanas parecem mero prelúdio, repetição, alívio ou consequência - uma imitação precária.
A
expressão sexual do amor representa também o nosso ato mais humilde. Em nenhuma
outra circunstância nós nos expomos tão completamente, denunciando a mais cabal
vulnerabilidade. Nada preservamos com mais recato que esse local íntimo onde os
parceiros revelam um ao outro o seu ser mais profundo, confiando-se mutuamente
esse ser. Graças à expressão sexual do amor, homens e mulheres deixam pais e mães
para se tornar, como diz a Bíblia, “ uma só carne”.
Gostemos
ou não, o vínculo especial e, no sentido mais profundo, indissolúvel entre os
parceiros surge da união sexual. Somente esse ato faz deles um casal, somente
esse ato pode torná-los pais. Por isso, se sua sexualidade for limitada de alguma
maneira por inibições ou pela esterilização de um deles o vínculo não se
completa, ainda que o casal o deseje. O mesmo se aplica aos relacionamentos
platônicos, em que os parceiros evitam os riscos da sexualidade e sentem menos
culpa ou responsabilidade quando se separam. Depois que os parceiros se ligaram
pela intimidade sexual, a separação sem culpa ou sofrimento não é mais
possível. Eles não podem partir como se a união nunca houvesse existido. Embora
esse apego seja um problema para os pais que se separam, também protege os
filhos de separações precipitadas ou caprichosas.
O papel
crucial que a sexualidade desempenha na união dos casais evidencia o primado da
carne sobre o espírito, bem como a sabedoria da carne. Somos tentados a
desvalorizar a carne em comparação com o espírito, como se o que se faz a partir
da necessidade física, do desejo e do amor sexual tivesse menos valor que os
benefícios da razão e da moralidade. Mas o desejo físico mostra a sua força, e
mesmo sabedoria, no ponto em que a razão e a moralidade atingem seus limites e
recuam. O desejo continua a manifestar-se depois que as frias exigências
racionais se esgotaram ou embotaram. A razão superior e o significado profundo
que emergem de nossas necessidades físicas instintivas superam e controlam a
racionalidade e a vontade. Estão mais próximos do centro da vida e são mais
resistentes."
Texto
extraído do livro “A Simetria oculta do amor” de Bert Hellinger
"No relacionamento a dois queremos alcançar algo que talvez não tenhamos conseguido no amor pelos nossos pais. Mas isso não dá certo sem que, primeiramente, o amor pelos pais comece a fluir"
Bert Hellinger
Um comentário:
É sem dúvida o ato de maior cumplicidade e confiança depositada um no outro.
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