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Realidades...do corpo, do virtual...




Adolescência - as experiências com o corpo em desenvolvimento e o uso da tecnologia


Recentemente, tive a oportunidade de conversar e refletir juntamente com o(a)s jovens estudantes do Colégio Imperatriz Leopoldina, dos 8ºs anos do Ensino Fundamental às 3ªs séries do Ensino Médio, a partir de um convite feito pela coordenação deste colégio para participar do encontro chamado de “Roda de Conversas”. O intuito era poder falar abertamente com o(a)s jovens sobre questões inerentes à pubescência e adolescência, como as mudanças e a relação com o corpo, a sexualidade, os relacionamentos afetivos, o uso de drogas lícitas e ilícitas, a violência, a comunicação e a tramitação pelos diversos níveis da sociedade e da cultura.
Entre os diversos temas abordados, surgiram perguntas acerca dos temas de abuso verbal, cyberbullying, uso excessivo de jogos eletrônicos e os benefícios e riscos do uso de aplicativos e mídias sociais.

Estamos em novos tempos. Tempos “globalizados” e “hiperconectados”. Tempos de imediatismo e realidade virtual. Tempos como nos diz Bauman de “modernidade líquida”.  É neste cenário e momento cultural que os jovens estão imersos e se desenvolvendo.  Novos paradigmas, novos desafios, novas formas de se relacionar e de se comunicar. Se já era natural haver uma certa distância entre as gerações dos pais e dos filhos, isto se tornou mais evidente e potencializado nos dias atuais. A tecnologia, as mídias, a internet, os aplicativos têm um enorme poder de sedução sobre crianças, jovens e adultos. Os adultos criam a tecnologia, as crianças nascem imersas nesta. Portanto, quanto mais jovem, mais difícil a percepção e diferenciação dos conceitos de realidade e fantasia. Do real e do virtual. Do tocar, no sentido físico e do estar em contato, no sentido virtual. Do conversar pessoalmente, olho no olho, do chat em aplicativos, dedilhando. O encontro e relacionamento com o outro no sentido físico e íntimo é uma vivência, cheia de desafios, mal-entendidos, afetos e emoções, à flor da pele, significação e ressignificação. O encontro virtual é uma máscara ideal e irreal. Torna-se uma proteção e ilusão promovidas e mantidas por avatares facilmente moldados, vaidosos, na moda, impulsivos e com baixíssimo limiar de frustração. Qualquer dificuldade...”tá block”... é apagado ou excluído. E os limites... bem, os limites e fronteiras no mundo virtual são efêmeros. Caso não tenhamos claros os limites e fronteiras na nossa vida diária, no convívio em sociedade, na troca relacional, com nosso corpo e saúde... estes serão ainda mais etéreos e difíceis de delimitar no mundo virtual.




Em um artigo escrito por Evelyn Eisenstein de 2013, temos: “As tecnologias da era digital, incluindo os aplicativos, websites e programas da Internet oferecem aos adolescentes uma perspectiva mais abrangente do mundo à sua volta, se usadas com respeito e cuidado, mas podem também se tornar uma ameaça e oferecer riscos à saúde quando se extrapolam os limites entre o real e o virtual, entre o público e o privado, entre o que é legal ou ilegal, entre o que é informação ou exploração, entre a intimidade e a distorção dos fatos ou imagens ‘reais’.”

Desta forma, a tecnologia, seu conjunto e linguagem vieram para acrescentar e, vieram para ficar. Podem ser um enorme acréscimo para nosso desenvolvimento econômico, comunicacional e mesmo social. Ainda não sabemos de seus limites e fronteiras, pois ainda é um mundo em crescimento e evolução, mas precisamos saber dos nossos limites e das nossas fronteiras. É importante abordar isto com nossas crianças e jovens quando começam a adentrar neste mundo, nesta rede, nesta teia. Criar um espaço de expressão e troca para identificar e lidar com perigos, riscos, circunstâncias que vão se mostrar e surgir no presente e futuro. Não é um bicho papão... mas como tudo na vida, tem pontos positivos e negativos, tem possibilidade e tem excessos, tem perspectivas, formas e consequências.

Temos alguns seriados que já abordam a questão de tecnologia, sexualidade, relacionamentos, sociedade, cultura e futuro, como “Wesworld”, “Black Mirrow”, “Love, Death + Robots”. E como não esquecer os filmes “Matrix” e “Trancendence”. Por vezes, podem ser um ponto de partida para reflexão e debate da contemporaneidade com os jovens em casa.

Verifico sempre que o(a)s jovens estão abertos ao diálogo e troca. Têm muitas dúvidas e estão maravilhados com o mundo que se mostra à sua frente. Têm um jeito e maneira própria de falar, vestir, sentir, expressar. Busco formas de entrar em conexão e troca com ele(a)s. É fundamental fazer algumas apresentações em relação à este mundo que se mostra para ele(a)s. Não que a vida tenha manual de instruções. Mas buscar possibilitar a conversa, troca, reflexão, problematização, debate é essencial para amadurecer este percurso pela vida. Fazer orientações, contar experiências, questionar e se permitir ser questionado e escutar o que floresce disto. Afinal, todos temos um corpo, aos poucos fomos aprendendo e nos habituando ao mesmo... nunca totalmente, pois ele nos surpreende. Desta surpresa, deste novo, eu crio. E junto com o outro, co-crio.




O aprisionamento ao Status ImagéticoDar um "like", "curtir", "compartilhar" - o ser humano busca acalento e reconhecimento, na "modernidade líquida", nos tempos "Hipermodernos", tal se manifesta nas mídias sociais por meio da participação do grupo na apreciação e compartilhamento de informações, imagens e histórias postadas por seus membros e participantes.
Mas, já que a mídia social é baseada em imagens...que imagem posso postar para alcançar o reconhecimento, apreciação, aprovação, agrado do Outro?
Que "falsas verdades" tento mostrar para alcançar esta aprovação? Sei que são "falsas verdades" ou me iludo com elas? Acredito mais em minha imagem projetada e ideal ou na difícil e complexa imagem real que possuo? Por qual assumo responsabilidade? Pelo imaginário ou pelo real? Qual o preço?
Os tempos modernos trouxeram novas ferramentas. Muito úteis e abrangentes. Mas, certos questionamentos são necessários para não perdermos nossa orientação e direção no fluxo da vida...



Para aprofundar a temática:



Evelyn Eisenstein - Desenvolvimento da sexualidade da geração digital - http://www.adolescenciaesaude.com/audiencia_pdf.asp?aid2=396&nomeArquivo=v10s1a08.pdf

Zygmunt Bauman - Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos. Editora Zahar, 2004

Do Real e do Virtual - Coluna de René Schubert para o Jornal Zen - Ano 15, N°173, Pag.06, São Paulo, Julho 2019

Somos prisioneiros de “expectros!?” - artigo de René Schubert no livro "O fracasso é apenas o que vem antes do sucesso", Literare Books International, Sao Paulo, 2021


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