“Ao
dar a vida aos filhos [...] os pais dão-lhes, com a vida, a si mesmos, tais
como são, sem acréscimo e sem exclusão. E por esta razão os filhos [...] não
somente têm os seus pais, mas eles são seus pais.” Bert
Hellinger
“Quando
uma mulher separa filho do pai, retira-lhe seu futuro” Sophie
Hellinger
“Tudo o que o homem e a mulher admiram e amam
em si mesmos e no parceiro, também admiram e amam nos filhos. E tudo que os
irrita e incomoda em si mesmos e no parceiro, também os irrita e incomoda no filho.” Bert Hellinger
Em artigo pelo Portal Raízes (2019) há a colocação de
como a cabeça da criança fica “bagunçada”
com a separação dos pais. O divórcio pode fazer, entre outros, com que a
criança se sinta dividida e até mesmo culpada pela separação – tal traz
prejuízos na área escolar, afetiva e pode apresentar-se no comportamento
agressivo, depressivo e ansioso da criança.
Ana
Carolina Lisboa reflete:
“Um processo de separação seja jurídico
ou sentimental nunca é superficial. Naquele momento se vive o luto de uma
pessoa viva. Se mexe com a sobrevivência de uma família, com crenças,
expectativas e frustrações."
Em texto escrito por Allyne Lima temos: “Os filhos possuem características físicas, emocionais/comportamentais
do pai e da mãe. Então, ao excluir uma dessas marcas, tiramos o direito de
existir, pois excluímos parte de sua origem/existência. Assim, o filho perde a
força.Muitos casais, divorciados ou não, iniciam intrigas por conta dessa não
aceitação da representatividade do outro nos próprios filhos, negando o próprio
filho. Há então, um incômodo em se ver “misturado” a outro ser na imagem
refletida no filho. Há ainda, um julgamento de certo e errado, bom ou ruim”.
Tal é também colocado por Joan Garriga:
"Quando os pais não conseguem
demonstrar apreço um pelo outro, isto gera muitos conflitos, porque o filho os
ama e busca formas de lealdade com ambos. Às vezes o filho despreza um, para
agradar ao outro, mas no final ele pode acabar se tornando o objeto
desprezado."
Na reflexão de Sami Storch: “A família permanecerá dividida e embora as leis tenham sido aplicadas,
o caso não está realmente resolvido, a decisão trouxe uma resolução, mas não
uma solução de paz para o conflito. A lealdade do filho a ambos os pais
transforma essa situação em um grande risco para seu bem-estar e
desenvolvimento. Uma ofensa do pai contra a mãe, ou da mãe contra o pai, são
sentidas pelos filhos como se estes fossem as vítimas dos ataques, mesmo que
não se deem conta disso. Sim, porque sistemicamente os filhos são profundamente
vinculados a ambos os pais biológicos. São constituídos por eles, por meio
deles receberam a vida.Por isso é que, mesmo que o filho manifeste uma rejeição
ao pai – porque este abandonou a família ou porque não paga pensão, por exemplo
– toda essa rejeição se volta contra ele mesmo, inconscientemente. Qualquer
ofensa ou julgamento de um dos pais contra o outro alimenta essa dinâmica,
prejudicial sobretudo aos filhos.”
A colega Claudiane Taveres aponta como em sua experiência clínica tem
observado o quanto os divórcios “mal
feitos” se tornam traumáticos para os filhos: “A situação se torna insustentável para os filhos quando os pais se
divorciam e continuam em conflito (..) As agressões verbais, físicas podem
deixar os filhos assustados, com medo e inseguros. Desenvolvem, além do trauma,
sentimento de culpa (..) Quando há conflito entre os pais o resultado é sempre
o sofrimento e a indecisão dos filhos. Crianças são frágeis, indefesas demais
para lidar com tais conflitos(..) passam a ocupar o lugar de mensageiros de
toda a dor, tristeza e melancolia de seus pais (..) Quando os pais “forçam” os
filhos a tomar partido e respeitar apenas um dos seus genitores, a criança
carregará uma profunda tristeza e a sensação vazio na alma (..) Na fase dos 4
aos 12 anos da criança o divórcio dos pais tem um grande impacto em seu mundo
infantil, causando uma desorientação e despedaçamento.”
Bianca
Pizzatto de Carvalho
define desta maneira as lealdades parentais invisíveis: “É a fidelidade que os filhos, mesmo adultos, tem com seus pais. Uma
criança aprende o significado das coisas a partir do que recebe de informações
de sua família, seja por palavras ou modelos de comportamentos”. A criança vai
ser moldada desta forma, pelo que lhe é direcionado, direta ou indiretamente,
pelos padrões de comportamentos e de crenças dos pais, pela cultura e clima
comum à casa, falas, expressões e olhares. Estes padrões repetitivos fazem com
que a criança entre em uma atmosfera típica de sua família e casa. Como em um
transe. E ela tomará este transe como natural e cotidiano. Assumirá postura e
papeis, muitas vezes inconscientemente, por modelagem, por imitação, por
lealdade, por amor aos pais”. Corroborando com esta pensamento temos:“Um dos panos de fundo que trazem
dificuldade às crianças é achar que são capazes ou que é permitido a elas assumir
algo pelos seus pais ou antepassados. Isso gera infinitos problemas para os
filhos e seus pais” Bert Hellinger.
Ana
Paula Gimenez pontua:
“segundo a psicologia, quem mais sofre
são os filhos neste processo, já que perdem a estrutura familiar, importante
para seu desenvolvimento emocional, físico e psíquico. Eles podem demonstrar um
profundo sentimento de solidão e sentirem-se abandonados durante o processo do
divórcio dos pais (..) Ocorre o medo de perder o contato com um deles, e outras
vezes, existem crianças que chegam a ser sentir culpadas pelo rompimento. Para
minimizar esta dinâmica e harmonizar as relações familiares, deve haver uma
diferenciação do casal conjugal para o casal parental.Independentemente do tipo
de guarda estabelecida, ambos continuam a exercer o Poder Familiar. Não existem
ex-filhos e ex-pais. As relações entre pais e filhos continuam intactas após a
separação do casal. O ideal seria que todos entendessem isto e colocassem o
menor em primeiro lugar, não levando as frustrações e mágoas de uma relação
amorosa, de encontro aos seus filhos.”
E, complementando estas reflexões
temos o desenvolvimento por Bert
Hellinger do conceito de movimento primário interrompido em direção à mãe
ou ao pai. Ele aponta que, havendo a impossibilidade de contato com os pais,
quanto mais jovem é a criança, mais o amor se transforma em dor, como outro
lado do amor. A dor desta separação, afastamento, por qual motivo justo for,
devido à incompreensão e registro traumático feito pelo e no corpo infantil, é
tamanha que para a mesma torna-se difícil mais tarde aproximar-se novamente. A
criança escolhe o isolamento. Se protege por detrás de muros e resistências
psíquicas. Torna-se reativa, defensiva. Ao invés de amor, sente raiva,
desespero, dor da perda. Não consegue sustentar a proximidade e trocas. Isto
gera um misto de angústia, ambivalência, insegurança, sentimentos de
inadequação e culpa. Podemos aqui levantar a possibilidade, de que algumas
separações, por sua violência assim sentida pela criança, atuam sobre esta, consequentemente,
como movimentos primários interrompidos.
Parte
integrante do artigo escrito por René Schubert: “Percursos por uma separação”,
para o livro: "Práticas Sistêmicas na Solução de Conflitos: Estudo de
Casos”. Editora Leader, Coordenação por Daniele Cristine Andrade Précoma &
Andreia Roma, São Paulo, 2020.
Referências
Bibliográficas:
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rápida e pacífica da guarda dos filhos - Revista Consultor Jurídico, maio 2015
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https://www.conjur.com.br/2015-mai-02/ana-paula-gimenez-mediacao-ajuda-definir-guarda-filhos
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J. O amor que nos faz bem: quando um e um somam mais que dois. Ed. Planeta,
2014
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Hellinger,
B. – Olhando para alma das crianças. Ed. Atman, 2015
Hellinger,
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2018 (in) http://aconstelacaofamiliar.blogspot.com/2018/09/movimento-interrompido-em-direcao-mae.html
Lisboa,
A.C. - Processos de Divórcio - Postado em 2020 (in) https://www.movimentosistemico.com/post/processos-de-divórcio
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2019 (in)
https://www.movimentosistemico.com/post/constelação-familiar-um-novo-olhar-para-alienação-parental
Portal
Raízes - Falar mal de um dos pais para o filho é “crime de Alienação Parental” -
março 2019 (in) https://www.portalraizes.com/alienacaoparental/
Quezada,
F. e Roma, A. – Pensamento Sistêmico: Abordagem sistêmica aplicada ao direito.
Ed.Leader, 2019
Schubert,
R. – Constelação As Constelações Familiares aplicadas à Justiça – Agosto 2016
(in) https://direitosistemico.wordpress.com/2016/08/10/as-constelacoes-familiares-aplicadas-a-justica/
Schubert,R.
– Constelação Familiar: Impressa no corpo, na alma, no destino. Reino Editorial,
2019.
Schubert,
R. - Refletindo o encontro de casal. Coluna para o Jornal Zen, Ano 15, Nº 175,
setembro 2019
Storch,
S. - Direito sistêmico é uma luz no campo dos meios adequados de solução de
conflitos - Revista Consultor Jurídico, junho 2018 (in)
https://www.conjur.com.br/2018-jun-20/sami-storch-direito-sistemico-euma-luz-solucao-conflitos
Tavares,
C. – Precisamos falar sobre o divórcio. Edição do Autor, 2019
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