Vou iniciar esta reflexão com duas frases de conhecidos filósofos:
"Antes de curar alguém, pergunta-lhe se está disposto a desistir das coisas que o fizeram adoecer" Hipócrates
“É parte da cura o desejo de ser
curado” Sêneca.
Geralmente no início do ano temos diversos eventos e publicações de instituições e grupos de psicologia divulgando o Janeiro Branco.
Desde 2014 o mês de Janeiro é representado pela
cor Branca para debater, informar, conscientizar a população em relação à
importância da saúde mental.
A importância das emoções, das
dores da alma, dos espaços de escuta e de tratamento psíquico. Não ao acaso o
mês escolhido é Janeiro pois é o mês que dá início ao ano, mês de reflexão, reinicio,
momento de colocar as metas em prática, validar estratégias que correram bem no
ano anterior e rever aquelas que fracassaram. É um mês que causa em certas
pessoas: agitação, receios, duvidas e inseguranças. Não por acaso sinais que
acometem pessoas com transtorno de ansiedade, depressão e/ou pânico. Quadros
que tem se destacado e agravado no passar dos anos, afetando a vida familiar,
profissional, acadêmica, relacional e pessoal de muitas pessoas.
Ano passado em diversos momentos
palestrei para jovens e adultos sobre tristeza, depressão, ansiedade, medos,
suicídio, comportamentos de risco, agressividade e violência, bullying, quadros compulsivos, uso e
abuso de drogas. Vivemos em Megalópole (Grande São Paulo), com diversas
pressões, expectativas, desafios, dificuldades. A busca pelo nosso lugar, por
realizarmo-nos “perfeitamente” em nosso ambiente acadêmico e profissional,
termos sucesso, termos dinheiro, sermos bem vistos e quistos, termos muitos views e likes, sermos bons, sermos completos, bonito(a)s, perfeitos, desejado(a)s...pertencermos...sermos
aceitos.
A questão é: nós nos vemos?
Nós nos aceitamos a partir do que vemos?
Nós nos escutamos?
Nós, nos sentimos?
Nós
buscamos calibrar, realinhar, diferenciar, resignificar, elaborar o que
vivemos, sentimos, convivemos?
A Organização Mundial da Saúde afirma que a saúde mental depende do bem-estar físico e social. A mesma também estabelece que somos seres Bio Psico Sociais e Espirituais. Ou seja uma multiplicidade de fatores, situações, agem e interagem conosco, o tempo todo.
Somos todos interconectados
e interdependentes. Gregários. Coletivos. Circulares. Repetitivos. Falhos. Contingentes. Mutáveis.
E nós?
Agimos, ou reagimos?
Observamos
e respiramos conscientemente o que se passa à nossa volta ou engolimos o ar e
tentamos suprimir, deletar ou alienarmo-nos do que nos cerca e também pulsa
dentro de nós?
Sigmund Freud apontava: “Somos feitos de carne, mas temos de viver
como se fôssemos de ferro”.
É...é uma jornada e tanto para estarmos nesta cultura, caminharmos por este mundo. Teremos momentos de resiliência e força. E outros nos quais ficaremos frágeis. Vulneráveis. Nos sentiremos sozinhos, pequenos e incapazes. Nos sentiremos...humanos.
É fundamental reconhecermos nossos pontos fracos, impossibilidades e incapacidade para aquela tarefa e/ou
momento e, por vezes, pedir ajuda. Aceitar nossa limitação naquele momento. Permitir-se receber ajuda. A importância de
reconhecer que algo não vai bem, que há um limite ai e que é necessária ajuda é um passo inicial e
essencial para que se caminhe rumo a um reestabelecimento e transformação. E por
vezes, as crises em nossa vida são oportunidades desta transformação ocorrer.
Possibilidades para ir além do que sei e sou até então. E, posso fazer esta
caminhada acompanhado.
Saúde mental é reconhecer que não
somos completos...somos sim incompletos e, por vezes, precisaremos do apoio, da
escuta, da troca com outro. Este outro pode ser um amigo, um familiar, um professor, um
colega assim como também um terapeuta, um médico, um especialista em saúde
mental. Um outro, disponível e ciente, tal como nós, de nossas fragilidades,
dificuldades e incompletude.
Texto originalmente escrito por René Schubert e publicado em sua coluna mensal para o Jornal Zen em Fevereiro de 2020. Revisto em Janeiro 2024
Um comentário:
Grato por compartilhar, a dor de um pode ser a dor de muitos! A Paz!
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