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Pedofilia: estudo psicodinâmico





O aumento e a extensão dos casos de agressão sexual em nossa sociedade tem elevado os esforços no sentido de compreender este tipo de violência. A pedofilia é um desses casos de agressão sexual com o qual nós temos nos defrontado quase que diariamente, em notícias de jornais e revistas. A internet, um mundo virtual que preserva a identidade de seus usuários e seus atos com a possibilidade da liberdade de expressão, tem propiciado e ocasionado vários fatos ligados à pedofilia. Não é mais raro atualmente, encontrar nos meios de comunicação, notícias recentes sobre esse crime que, de forma devastadora, desrespeita todos os direitos, e a moral de uma criança. Pesquisas têm sido realizadas em várias áreas (Psicologia, Psicanálise, Psiquiatria, Medicina, entre outras) resultando em medidas de ordem preventiva e em intervenções propriamente dita. A pedofilia é praticada por pessoas maiores de idade (adultos) que apresentam desejos sexuais por crianças e adolescentes dependentes e imaturos. São atividades que violam o tabu sócio-cultural e que são contra a lei. Em geral, tal desequilíbrio apresenta também exibicionismo, estupro, sadismo sexual, homossexualismo, voyerismo, entre outras perversões, podendo cometer numerosos atos sexuais com crianças de diversas maneiras. Entre os fatores que a predispõe, prevalece a violência na família, carência afetiva, abuso de substâncias tóxicas, deficiência na educação sexual, experiências sexuais precoces e ambiente familiar patológico. A etiologia da agressão sexual ainda é alvo de controvérsias na medida que a identificação de características únicas e comuns não podem ser combinadas em uma equação de previsibilidade. O ser humano é um ser complexo, assim tanto no equilíbrio quanto no desequilíbrio, é muito difícil prever ou predizer suas ações e motivos.

LITERATURA


Na literatura científica, temos vários teóricos que investigaram e tentaram explicar os possíveis motivos que podem estar ligados à esse desequilíbrio, entre eles temos: FREUD (1908) considerou que nas perversões ocorre a regressão aos conflitos da fase edipiana, sendo que a sexualidade é substituída por componentes da sexualidade infantil. Também FREUD (1927), dividiu as perversões em dois grandes grupos: a) desvios do objeto sexual, incluindo-se homossexualismo, fetichismo, pedofilia, zoofilia, etc. b) desvios da finalidade sexual, incluindo-se voyerismo, exibicionismo, sadismo, masoquismo, etc. SOPOERRI (1972) ressaltou que os pedófilos apresentam sentimento de inferioridade e conflitos em relação à figura humana. COLLEMAN (1973) distinguiu a personalidade dos pedófilos mais jovens e mais velhos. Os primeiros apresentam sentimentos de inadequação frente o sexo oposto, medo de rejeição e humilhação, sendo que muitos eram esquizóides com tendências ao consumo de álcool. Os pedófilos mais velhos, apresentam transtornos psicóticos, instabilidade emocional, imaturidade, controle interno precário e conflitos homossexuais. CALLIERI (1998) apontou que os pedofílicos possuem pulsão destrutiva muito forte com defesas precárias, sendo dominados por qualidades narcisistas e de agressividade destrutiva que se transforma facilmente em sadismo. O autor prefere utilizar o termo "agressor sexual" uma vez que o comportamento sexual é invasivo e não propriamente inocente. Apontou ainda que na prática sexual em geral as crianças silenciam, o que pode representar uma complexa relação entre os dois ou uma tendência da criança à vitimização. Finalmente, GLAZER (2000), especificou que a maioria dos pedófilos sofreu abusos sexuais na infância, começando a desenvolver o ato perverso logo cedo. No entanto, o autor acentuou que a pedofilia dificilmente aparece de forma exclusiva, sendo acompanhada por outros tipos de violência sexual (como sadismo, masoquismo, estupro, entre outros). Analisou ainda que no grupo familiar de tais pessoas prevalece a hostilidade e agressividade, sendo o incesto algo muitas vezes freqüente. Temos, portanto, alguns teóricos que contribuíram, entre tantos, para o esclarecimento da pedofilia. Porém, ainda assim, os recursos que possuímos são muito restritos. Neste sentido, a pesquisa, aqui apresentada, faz parte de um trabalho que, visou levantar as características psicológicas de personalidade de um caso de pedofilia, através do uso de técnicas projetivas. Os métodos e técnicas projetivas utilizadas foram as seguintes: o Método de Rorschach, segundo SILVEIRA (1985) e o teste projetivo H.T.P. (House-Tree-People), segundo VAN KLOCK (1984). O Método de Rorschach é um instrumento psicológico que visa interpretar a estrutura de personalidade das pessoas submetidas ao mesmo, enquanto o teste projetivo H.T.P. é um instrumento psicológico que visa interpretar a sua dinâmica de personalidade. De forma resumida, tais instrumentos, utilizados dentro do processo psicodiagnóstico, têm como objetivo descrever e analisar psicologicamente a pessoa examinada, para inferir um diagnóstico, orientação e/ou encaminhamento.

PROCEDIMENTO


O caso de pedofilia foi selecionado e avaliado num Hospital Psiquiátrico de São Paulo. No primeiro contato com o examinando, explicou-se o objetivo da aplicação dos testes, solicitando a colaboração e permissão para divulgação dos dados, assegurando que sua identidade seria preservada. Optou-se iniciar o estudo pelo teste projetivo HTP, aplicando-se o Método de Rocharch na semana seguinte. O teste e a entrevista ocorreram em uma sala bem iluminada e arejada, estando presentes o Examinador e o Examinado.

HISTÓRICO


Sexo masculino, divorciado, branco, 48 anos, brasileiro natural de Presidente Prudente, exercia a profissão de entalhador. Acusado de cometer crime de estupro com traços sádicos e de cunho pedofílico. Em 1989, atraiu uma menina de 3 anos de idade para um barracão, realizando ato de felação com tentativa de penetração anal e vaginal sem êxito. Foi pego em flagrante por uma pessoa que acionou a polícia local. Detido há 10 anos, encontrava-se em regime de reintegração social num Hospital de custódia e tratamento psiquiátrico de São Paulo.


CONCLUSÃO


A avaliação psicológica de um caso de pedofilia por meio do Método de Rorschach e do teste projetivo HTP, permitiu concluir que o examinando revela:

* Controle interno extremamente precário, com reações explosivas, impulsivas e egocêntricas.
* Conflitos nas relações interpessoais e fortes traços de insegurança.
* Contato com o meio externo subjetivo com fuga para o devaneio e adaptação intelectual precária.
* Distúrbios no desenvolvimento psicossexual.


Referências Bibliográficas


CALLIERI, B. I comportamenti pedofili: aspetti psicopatologici | Pedophilicbehaviors: the psychopathological aspects. Recenti Prog Med; 89(12):621-2Italy, (Medline 1998).
COLLEMAN, I. G. Distúrbios psicológicos e a vida contemporânea. Pioneira,São Paulo, 1973.
FREUD, S. The Standard Edition of the complete Psychological works of Sigmund Freud. Hogard Press, London, 1953-1974.
- On the sexual theories of children .S.E. IX, 1908
- Fetishism .S.E. XXI, 1927
GLASER, B. Psychiatry and paedophilia: a major public health issue. Aust N Z JPsychiatry; 32 (2); 162-7, Australia, (Medline 1998).
SILVEIRA, A. Prova de Rorschach: Elaboração do Psicograma. Brasileira LTDA São Paulo, 1972.
SOPOERRI, T. H. Compêndio de Psiquiatria . Atheneu, São Paulo, 1972.
VAN KLOCK, O. L. Testes Projetivos Gráficos no diagnóstico Psicológico. E.P.U.,1984.


PESQUISA EM SI: Esta pesquisa foi publicada na PSIKHÊ, Revista do Curso de Psicologia do Centro Universitário FMU, Vol. 5, n.1, jan./jun., 2000. Publicada também como "Estudo de caso: Pedofilia" nos Anais do I Congresso de Psicologia Clinica da Universidade Mackenzie, Parte 1, 2 v., 509 p., São Paulo-SP, Maio 2001.


Apresentada no XXVII Congresso Interamericano de Psicologia em Santiago/Chile - de 29 a 03 de julho 2001. Apresentada no XI Congreso Latinoamericano de Roeschach y otras tecnicas proyectivas- ALAR 2001 – em Rosario/Argentina - de 23 a 26 de maio 2001.


A Monografia completa da pesquisa pode ser encontrada na Clínica Psicológica Uni-FMU como pesquisa de iniciação científica sob o título: Características Afetivo-Emocionais de Pedofílico por meio do teste H.T.P.

OS AUTORES:


Maria Ângela Colombo Rossetto – Orientadora. Professora Titular do Curso de Psicologia do Centro Universitário FMU.

René Schubert – Psicólogo Clínico e Psicanalista

Artigo revisto - Março 2008

5 comentários:

Mirna Dutra e Pinto disse...

Olá,

gostei do seu artigo, ele me ajudou muito a terminar de analisar uma avaliação psicológica de um caso de agressão sexual. Realmente é um desafio trabalhar com laudos nesta área. Trabalho com avaliação psicológica com método de rorschach.

Um Abraço

Jéssica Barbosa disse...

Gostei muito também do artigo, vai me ajudar muito em um trabalho acadêmico. Tem ótimas referências.

Obrigada. Jéssica Barbosa

Mariana disse...

Estou fazendo minha monografia sobre o tema pedofilia, sou estudante do curso de direito e pretendo me focar na área de psicologia jurídica. Teria como vc me indicar alguns livros acerca deste tema e se possível tirar eventuais dúvidas?
meu e-mail é mnogueiracarvalho@bol.com.br

Att.
MARIANA NOGUEIRA

René Schubert disse...

Grato pelo Feedback dado!
Maiores informações vocês podem entrar em contato comigo pelo schubert_rene@hotmail.com

Anônimo disse...

Mesmo quando todos os especialistas estão de acordo podem muito bem estar enganados.
Bertrand Russell

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