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Psicossomática – quando a Psique afeta o Soma



O presente texto é uma síntese da palestra sobre este assuntro proferida pelo psicólogo e psicanalista René Schubert. Claro que a temática aqui exposta, da psicossomática, é muito mais extensa, vasta e complexa. Mas a pedido de diversas pessoas se disponibiliza aqui alguns dados expostos durante a palestra referente à este campo do saber. Bons estudos e reflexões!





A palavra psicossomática é de origem grega. É uma junção de duas palavras gregas: psique (psico – alma) e soma (corpo). 


E, deste modo, uma doença psicossomática é aquela que não é exclusivamente somática, corporal, mas tem origem na psique, na alma. 

A psique inclui tudo o que não conseguimos localizar no corpo de uma maneira específica: nossas emoções, sentimentos, pensamentos. Mesmo com as descobertas da neurociência, ainda há muitas questões a serem esclarecidas quanto à localização no cérebro.


Quando surgiu a psicanálise, na verdade, antes do início da psicanálise, Sigmund Freud, neurologista austríaco, foi estudar com Jean-Martin Charcot em Paris. Charcot havia ficado mundialmente conhecido pelos seus trabalhos na Salpetrière (Hospital La Salpêtrière), especialmente com pacientes histéricas. Charcot conseguiu demonstrar que a histeria não era uma doença orgânica, física, pois por meio do uso  da hipnose, ele podia tirar o sintoma da paciente, alterar sua manifestação e até  mesmo inserir um novo sintoma, novos comandos.

As vezes ouvimos falar de alguém que foi ao médico e ouviu dele que a sua doença era de fundo emocional ou que o que o paciente estava sentindo era um sintoma nervoso, de estresse, ansiedade. Todas estas causas (fundo emocional, nervoso, etc) significam o mesmo: a origem do sintoma não é orgânica, não está no físico, no corpo. É, portanto, uma doença psicossomática.



“No inconsciente, nada pode ser interrompido, nada fica para trás ou é esquecido. Isto nos é mais vividamente provado ao estudarmos as neuroses e, especialmente, a histeria. A via inconsciente de pensamentos que conduz à descarga num ataque histérico se torna imediatamente percorrível mais uma vez, quando se houver acumulado excitação suficiente. Uma humilhação que foi experimentada há trinta anos atua exatamente como uma nova durante os trinta anos, assim que obtém acesso às fontes inconscientes de emoção.”

 Sigmund Freud em “Interpretação dos Sonhos”

A Histeria e o Surgimento da Psicanálise

O termo origina-se do grego, hystéra, que significa útero. Uma antiga teoria sugeria que o útero vagava pelo corpo e a histeria era considerada uma moléstia especificamente feminina, atribuída a uma disfunção uterina.

Entre os sintomas clássicos das manifestações histéricas encontravam-se: sensação de sufocação, tosse, acessos dramáticos, paralisia dos membros, desmaios, incapacidades repentinas de falar, perda de audição, esquecimento de língua materna, vômitos persistentes e incapacidade de ingerir alimentos.

Sigmund Freud (1856-1939), em colaboração com Joseph Breuer, começou a pesquisar os mecanismos psíquicos da histeria e postulou em sua teoria que essa neurose era causada por lembranças reprimidas, de grande intensidade emocional. A Histeria era um sofrimento passivo e intenso e ao mesmo tempo uma forma de fugir da realidade, ou de pelo menos se abster das obrigações que essa realidade impunha.

Em Estudos sobre Histeria (1905), Freud e Breuer apresentaram três pontos fundamentais da Histeria: os sintomas histéricos faziam sentido; existia um trauma que causara a doença, que tinha ligação com impulsos libidinais que haviam sido reprimidos; a lembrança desse trauma e sua catarse era o caminho para a cura.

       Crises epiléticas; dificuldades respiratórias; incapacidade de andar e falar; bloqueios de visão, audição e fala. Em um primeiro momento o médico pode acreditar que esses sintomas representam um acidente vascular cerebral (AVC) ou, ainda, que o paciente ingeriu drogas, machucou a cabeça de alguma forma ou é epilético.

       Após solicitar uma série de exames neurológicos, o médico vai perceber que não houve um episódio de AVC ou epilepsia. Além disso, o paciente não se acidentou nem ingeriu drogas. É comum, nesses casos, que o quadro seja diagnosticado como uma crise histérica nervosa.

       O fato é que o termo “histeria” deixou de ser utilizado há pouco tempo, na era da psicoterapia moderna, e a palavra “conversão” passou a ser adotada para definir esses casos.

       A conversão pode estar ligada a diversos traumas emocionais ou experiências de estresse extremo, como a morte de uma pessoa ou um caso de demissão. Transformar essa dor psicológica em uma dor física é um mecanismo do próprio corpo humano, que talvez divida o peso de um trauma com o resto no corpo para não sobrecarregar o lado emocional.


De acordo com o medico alemão Ryke Hammer, as doenças são: “PROGRAMAS ESPECIAIS COM SIGNIFICADO BIOLÓGICO” (SBS), criados para ajudar o indivíduo durante um período de aflição emocional e psicológica. Todas as teorias médicas, convencionais ou “alternativas”, do passado ou atuais, baseiam-se no conceito de que as doenças são “disfunções” do organismo. As descobertas do Dr. Hammer provam que nada na Natureza é “doentio”, senão sempre significativo em termos biológicos.




Alguns exemplos didáticos (generalizações):

       Dores de cabeça = autocrítica, perfeccionismo
        Intestino preso = problemas mal resolvidos
       Intestino solto = necessidade de expelir, livrar-se, intoxicação
       Vômitos = expulsão, algo que precisa ser expelido, mal estar com palavras, situações
        Tosse e alergias respiratórias = irritação com algo no ambiente
       Garganta inflamada, afonia = Dificuldade de expressão, magoa
       Dores de ouvido = dificuldade de processar conflitos externos
       Dores na coluna = Dificuldade de sustentar uma situação, falta de base
       Enurese diurna, noturna = excitação, agressividade, necessidade de se colocar


Um exemplo clínico – Fibromialgia

‘Fibromialgia’ refere-se a um quadro de dor generalizada e crônica - considerada como uma síndrome, já que engloba diferentes manifestações clínicas (dor intensa, fadiga, distúrbios do sono, indisposição, apatia, tristeza, dores de cabeça, colites e distúrbios gástricos, entre outros)

Em 1992, a Organização Mundial da Saúde (OMS) a reconheceu como doença e dados mostram ocorrência maior em mulheres. A frequência na população geral é de 1 a 5%.

O diagnóstico, é complexo, já que não existem exames específicos que “detectem” a fibromialgia, sendo necessária uma investigação clínica aprofundada. Isso porque, apesar de hoje ser compreendida como uma forma de reumatismo (envolvendo músculos, tendões e ligamentos), a doença não deixa “marcas”, isso é, não causa qualquer tipo de deformidade, sequela ou alteração na estrutura física.

A origem desta condição ainda é desconhecida e cada vez mais profissionais da saúde tem se dedicado a estuda-la e a encontrar respostas. As questões emocionais e sociais, por exemplo, são fatores amplamente associados à fibromialgia, porém, ainda é incerto afirmar que ela é causada por intercorrências psicossociais ou se o que acontece é justamente o oposto: que a dimensão emocional é uma consequência do sofrimento causado pela dor e outras questões, como a incompreensão familiar e social frente aos sintomas.

Tratamentos indicados: Neurologista e/ou Psiquiatria, Psicoterapia, Fisiatria/Fisioterapia, Nutricionista, Atividades físicas frequentes (caminhada, hidroginástica, natação, equitação, ginástica, pilates), acompanhamento medicamentoso.


É muito importante, termos em vista nossa constituição sistêmica e global como Seres Bio-Psico-Sociais e Espirituais. Ou seja, internamente temos diversos sistemas orgânicos (respiratório, reprodutor, neurológico...) e estamos em contato e inter relacionamento com diversos outros sistemas, familiares, profissionais, amigos, pessoas diferentes, culturas diferentes. A possibilidade de conflito é uma constante. É importante que com frequência façamos uma auto-analise, auto-avaliação e escutemos nosso corpo. Perceber nosso corpo para ver, ouvir, sentir, como este está. Como estamos lidando com nossos relacionamentos, com as perdas, com os ajustes que a vida impõe?

Se houver dificuldades para tal, há caminhos para tornar isto possível como por exemplo a psicoterapia. A busca por profissionais médicos quando os sintomas se manifestam é fundamental. Mas também procura-los preventivamente é uma prática indicada, fazendo exames regulares. Importante também é manter o nosso corpo em movimento, em atividade, fazendo atividades físicas e dedicando-se a um ou mais Hobbies. Prestar atenção aos nossos hábitos alimentares e como estes interagem com nosso corpo. Buscar amigos e colegas para conversar e trocar. Permitir-se conhecer novas ideias, novas opiniões, novos lugares, novas pessoas - flexibilizar-se. Estimular a leitura. Buscar alimentar a alma com a arte, com a música...

Permita-se conhecer-se...será uma aventura!



Reflexão de Haendel Mota ( 10/05/2023): Sigmund Freud iniciou tudo o que produziu investigando os chamados fenômenos psicossomáticos – aqueles que põem o corpo para falar quando a boca está impedida ou já desistiu disso. Fenômenos que agora, na atualidade, ganharam outras faces, mas ainda estão por aí: fibromialgia, eczemas na pele, queda de cabelo, dores crônicas, pressão alta, entre outros. Ocorre, no humano, um fenômeno curioso: nosso corpo não apenas abriga um aparelho de linguagem que fala; num certo ponto de seu desenvolvimento, esse aparelho cria uma autoimagem que se apropria do corpo, colocando órgãos para ir mal ou a pele para arrepiar diante de uma linda frase.

Constata-se que psíquico (mente) e somático (corpo) circuitam em interferência mútua, numa via de mão dupla.

Ou seja, o cérebro não alcança bem-estar bioquímico pela mão única da boa nutrição, hábitos esportivos ou ingestão de substâncias psicoativas, mas igualmente por um trabalho de elaboração e rearranjo de sua cadeia repertorial, esse algoritmo de palavras que busca para a vida um significado.
Aqui, dois problemas: 1) se enamorar demais pelo significado das palavras e se desconectar da existência despropositada do corpo – algo que o filme 'Soul', da Pixar, nos convida a resgatar; 2) apostar no caminho fácil do pensamento positivo ou mágico (miragem que Freud chamava "onipotência dos pensamentos"), cuja força, ainda que precária, se revela no efeito conhecido dos placebos.

Contra uma infecção no intestino, não bastam conjeturas filosóficas ou mantras positivos, melhor mesmo um antibiótico.Já se um mal-estar físico parece atrelado a sentimentos e pensamentos – campo hoje conhecido como saúde mental –, melhor não apostar apenas em nutrição, esporte ou medicamentos, mas num trabalho de fala impalpável, eixo das palavras e significações, na contramão do domínio do corpo sobre o psíquico :)


Referência Bibliográfica:

       Estudos sobre a Histeria (1895); O mal estar na civilização (1930); A psicopatologia da vida cotidiana (1901) – Sigmund Freud
       A linguagem do Corpo – Cristina Cairo
       A doença como símbolo; A doença como linguagem da Alma - Rudiger Dahlke
       Desatando os laços do destino – Bert Hellinger
       Cure o seu corpo – Louise Hay
       Madame Bovary – Gustave Flambert
       O médico e o monstro – Robert Stevenson

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