Recentemente a Revista Mente e Cérebro (Abril 2014) num texto de autoria de Andreas Meyer-Lindenberg, colocou a reflexão sobre a pressão social e psíquica que moradores de grandes centros urbanos sofrem, levando ao esgotamento físico e mental, depressão, fobias, síndromes ansiosas entre outros.
Sigmund Freud apontava como somos seres em constante conflito. E que tal é parte de nossa natureza, o conflito. Ora em conflito com as fantasias, pulsões e instintos no mundo interno, ora em conflito com as autoridades, impossibilidades, demandas e imposições do mundo externo...ora com ambos, ao mesmo tempo! Freud aborda longamente os efeitos do conflito Interno versus Externo nos livros: A Psicopatologia da Vida Cotidiana & O Mal Estar na Civilização.
São de sua autoria as frases:
"A renúncia progressiva dos instintos parece ser um dos fundamentos do desenvolvimento da civilização humana.
É quase impossível conciliar as exigências do instinto sexual com as da civilização.
Se o desenvolvimento da civilização é tão semelhante ao do indivíduo, e
se usa os mesmos meios, não teríamos o direito de diagnosticar que
muitas civilizações, ou épocas culturais - talvez até a humanidade
inteira - se tornaram neuróticas sob a influência do seu esforço de
civilização?"
Muitas modalidades complementares como o Coaching, Consultores, Facilitadores de Programação Neurolinguística, Hipnoterapia, Terapeutas corporais, por exemplo, tem tido sua demanda aumentada em grandes cidades, pela busca e necessidade de um espaço de escuta, compreensão, troca e cumplicidade.
Em
parte a grande procura por profissionais psicólogos, psicanalistas,
psiquiatras e de saúde mental se deve à necessidade que as pessoas tem
em dialetizar e compartilhar os conflitos causados pelo stress diário e
solidão, causados pela vivência em grandes centros urbanos. Nenhum homem é uma ilha isolada, dizia o pensador John Donne, e muitas vezes nos sentimos sós em meio à multidão que nos cerca.
A civilização está em amplo desenvolvimento...e para tal, cobra o seu preço!
Que cuidado estamos tendo com nossos relacionamentos? Com nossos vínculos? Seja com amigos, parceiros, companheiros, colegas, família...como vai a saúde relacional?
É preciso muita flexibilidade, maturidade e cabeça fria para lidar com as demandas diárias nesta nossa bela e caótica megalópole...continuando humano...demasiadamente, humano!
Segue o texto publicado pela Revista Mente e Cerebro:
"Mais da metade da população do mundo vive em uma metrópole
e, em 2050, é muito provável que esse contingente chegue a dois terços.
Em algumas regiões do planeta os números são impressionantes: as
megacidades chinesas, por exemplo, recebem 10 milhões de novos moradores
a cada ano. A migração urbana representa uma das transformações
ambientais mais drásticas realizadas pelos seres humanos. É preciso
questionar: como estamos nos adaptando aos novos espaços?
não
é de hoje que psicólogos apontam que a vida nas grandes cidades cobra
pedágio emocional. Mais recentemente, estudos indicam que memória e
atenção podem ser prejudicadas por ambientes urbanos. Pessoas que moram
em metrópoles têm maior propensão a sofrer de ansiedade e depressão; o
risco de desenvolver esquizofrenia também aumenta consideravelmente.
Pesquisas apontam que a probabilidade de desenvolver algum transtorno
emocional grave é duas a três vezes maior em crianças nascidas em
ambiente urbano do que em parentes que vivem no interior ou em regiões
mais periféricas.
Essas estatísticas podem não
surpreender pessoas que diariamente sofrem com o estresse na hora do
rush – mas também não são facilmente explicadas. Epidemiologistas
descartaram a resposta mais óbvia, ou seja, aqueles com risco de
desenvolver distúrbios psíquicos são mais atraídos para os grandes
centros. Pesquisadores acreditam que aspectos da vida metropolitana
favorecem dificuldades emocionais: barulho, poluição e pressão social em
razão da maior concorrência, da fragilidade dos laços e da sensação de
não pertencimento a um lugar ou grupo.
Diversas
pesquisas sugerem ainda que o estresse social é extremamente
desfavorável à saúde psíquica. Um estudo feito pelo Instituto Central de
Saúde Mental de Mannheim, na Alemanha, corrobora essa hipótese e
apresenta o primeiro mecanismo neurobiológico para explicá-la. Há
evidências de que a pressão social da vida urbana compromete circuitos
cerebrais relacionados ao esgotamento físico e mental, aos transtornos
de humor e a outros distúrbios emocionais.
Em
2011, os pesquisadores registraram a atividade cerebral de 32 estudantes
universitários alemães nascidos em metrópoles, cidades medianas ou no
campo. De forma deliberada, provocaram estresse nos participantes
enquanto tentavam resolver uma série de desafios mentais. Ao entrar no
equipamento, cada voluntário visualizava um medidor de desempenho que
indicava falsamente a má execução das tarefas em comparação com os
outros. Ao mesmo tempo, pedia-se que se esforçasse mais para não
estragar a experiência. A artimanha funcionou. Detectamos elevada
frequência cardíaca, pressão arterial e aumento dos níveis dos hormônios
do estresse nos participantes – após o teste, depois de explicarmos
nossa conduta, eles confirmaram que de fato haviam se sentido bastante
pressionados.
Como esperado, a vivência
estressante ativou diversas áreas do cérebro dos voluntários. No
entanto, descobrimos algo que nos surpreendeu: uma região específica, a
amígdala, demonstrou maior ativação nos participantes urbanos. A
estrutura do tamanho de uma cereja, localizada no lobo temporal, atua
como um tipo de detector de perigo, desencadeando respostas de “luta” ou
“fuga”, além de regular emoções, como o medo. Observamos em nossa
pesquisa que essa área cerebral parecia imune ao estresse entre
participantes do campo e demonstrou moderada ativação em pes-soas que
viviam em cidades pequenas. Já nos moradores de metrópoles, a pressão
sentida sobrecarregou a amígdala.
Disponível no link: http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/cidades_depressa_ansiedade_esquizofrenia.html
E recentemente a São Paulo Megacity Mental Health Surve publicou um relatório no qual aponta que São Paulo é a metrópole que possui a maior incidência de perturbações mentais no mundo:
Referência de vídeo para reflexão: A Felicidade / Happiness - Short Film by Steve Cutts:
"O estudo feito pela OMS (Organização
Mundial de Saúde) revela que 29,6% dos paulistanos, e moradores da
região metropolitana, sofrem de algum tipo de perturbação mental. O
levantamento pesquisou 24 grandes cidades em diferentes países.Entre os problemas mais comuns apontados
no estudo estão a ansiedade, mudanças comportamentais e abuso de
substâncias químicas. Dentre eles, a ansiedade é o mais comum, afetando
19,9% das 5.037 pessoas pesquisadas. Depois de São Paulo, cidade que
representa o Brasil no estudo, os EUA aparece em segundo lugar, com
aproximadamente 25% de incidência de perturbações mentais. A cidade
norte-americana utilizada no levantamento da OMS não foi revelada.Além de ser a cidade com maior
incidência de perturbações mentais, São Paulo também aparece na
liderança do ranking de casos graves, com 10% da população afetada.
Neste ponto, a capital paulista também é seguida pelos EUA, que possui
uma incidência de casos graves de 5,7%De acordo com os pesquisadores
responsáveis pelo estudo, a alta incidência de perturbações mentais é
causada pela alta urbanização associada com privações sociais. Segundo
eles, os grupos mais vulneráveis são homens migrantes e mulheres que
residem em regiões de alta vulnerabilidade social. "
Em São Paulo, a pesquisa da OMS foi
financiada pela Fapesp, sob a coordenação de Laura Helena Andrade, professora do
Departamento e Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP,
e de Maria Carmen Viana, professora do Departamento de Medicina
Social da Universidade Federal do Espírito Santo.

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