"Ok, a máquina aprendeu a falar, mas não pode aprender a calar, pois 'by design' é feita para responder.
O que está em jogo num diálogo terapêutico nem sempre é a entrega de uma informação, um aconselhamento ou, como muitos imaginam, uma interpretação que decodifique o relato.Quando procuramos um especialista em algo (ou máquinas que pretendam ocupar esse lugar), vamos em busca de um 'saber', mas em uma experiência de análise, respostas pelo silêncio também farão parte do caminho.
No extremo disso, muitos reprovam psicanalistas por serem silenciosos demais, sugerindo indiferença ou pouca empatia.
"Mas embora esse personagem calado esteja mais para um estereótipo de cinema (penso até que falo demais nos atendimentos que conduzo...), um analista precisa, sim, ser capaz de operar pela subtração e pelo silêncio.
Nesse sentido, uma das contribuições mais interessantes que Lacan traz à psicanálise é a sessão sem tempo definido: não é o relógio que encerra burocraticamente a consulta, mas uma percepção de contexto, que permite ao analista fazer do encerramento uma intervenção.
E por que o silêncio como resposta importa tanto?
De modo bem resumido, por dois pontos cruciais:
1) para quebrar uma expectativa centrada sempre na próxima mensagem, devolvendo eco corporal e reflexão ao que já foi dito;
2) para trazer à luz o fato de que, numa análise, não há um saber pré-definido a ser entregue, mas um esforço de invenção, imerso num lugar de dificuldade autêntica.
Nessa medida, interrupções bem aplicadas na comunicação podem gerar efeitos bastante distintos de uma adição contínua de conteúdos, sejam gerados por modelos de linguagem ou não.
Mas por agora a vibe é abundante e acumuladora, com bombardeios de IA generativas por todos os lados. E nós ali no meio, únicos capazes de gerar silêncios"
Reflexão proposta por Haendel Motta na Plataforma Linkedin
AI não pode substituir o serviço, trabalho de um(a) psicanalista e/ou psicólogo(a)...
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