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Metáfora do barco e do oceano

Novamente durante alguns atendimentos, supervisões e palestras foi indo e voltando uma metáfora que descrevo aqui. O interessante é que após cada conversa, explicação, aprofundamento, esta metáfora foi se alterando, elaborando e criando forças, em uma flexibilidade e plasticidade comum às palavras, sonhos e símbolos do Inconsciente.

Imagino que ela provavelmente já foi utilizada e proferida por outros, em outros momentos...mas por achar ela bela, em sua imagem e força, transcrevo-a aqui, da forma como me foi presenteada nos últimos meses de atendimentos e aulas, nas quais o tema do EU e do Inconsciente foram presentes e vivos...



Quando olhamos para imensidão do oceano sentimos sua amplitude, grandeza...talvez venham sentimentos de curiosidade, insegurança, medo, desafio...mas vemos o oceano em sua superfície, não em sua profundidade, mas sabemos que ela também está lá.

Digamos que tenhamos um pequeno bote, e com este estejamos em alto mar. Norte, Sul, Leste, Oeste, para onde olhamos vemos ele, o oceano, extenso, azul, vasto, estendido até onde nosso olhar alcança. E lá no final, no horizonte, talvez vejamos o encontro do oceano com o Céu, com o pôr do sol ou com o nascer do mesmo. O encontro do oceano com o céu estrelado, com as nuvens, com a linha finita...que vai além...a perder de vista. Misterioso, belo e incapturável.

De muitas formas o oceano pode ser comparado com nosso Inconsciente. De certa forma podemos vê-lo, apreendê-lo por alguns instantes...e logo em seguida escapa. Ele esta e não, ao mesmo tempo. Ele é amplo e vai até onde nosso olhar pode ir...mas não conseguimos saber sua profundidade e elementos, aspectos, essência. Sabemos aponta-lo, descreve-lo, mas não o sabemos todo...ele nos escapa.

Nós em nosso botinho, somos a vontade e o bote, nosso EU. O EU que em nossa língua foi traduzida como EGO. O ego tem limites, tal como o bote. Ele tem fronteiras e tem direção. Nós, a vontade e os remos, os meios, seguimos para a direção. Para o alvo. Para o objetivo de nossa jornada. O bote pode seguir para norte, sul, leste ou oeste. Enquanto estiver protegido e acima da água, pode seguir. Talvez por alguns instantes o barqueiro pense que com o seu botinho dominou o oceano. Sabe para onde quer ir. Torna o oceano apenas algo com o qual consegue navegar e alcançar seus meios e objetivos. Se pensa, maior que o oceano.

Mas o bote é feito para navegar sobre o oceano. O oceano é poderoso, avassalador e terrível em muitos aspectos. O Inconsciente permite que o Ego o navegue. Existe aqui uma hierarquia silenciosa, ou talvez nem tanto...o Inconsciente, vasto e amplo, veio primeiro, e permite que o EGO possa explorar e navegar, em sua superfície. Nem sempre é fácil. Há tempestades, mares revoltosos, perigos submersos. O barqueiro precisa ter maestria na condução, na utilização dos remos e capacidades de seu barquinho. Se for imprudente, arrogante, inseguro, descuidado ou demasiadamente frágil, será engolido pelo oceano. Será derrubado. Será envolvido, definitivamente. 

E o bote, o ego, é a nossa apresentação social para ir e vir. Nossa comunicação com o meio externo. Comunica-se com o dentro e com o fora. Parte do bote toca o oceano e outra parte permanece fora deste. Dentro e fora. Mundo interno e Mundo externo. Para seguir e se comunicar. Para ir do ponto A ao ponto B. Próximo e/ou distante. Nós, seres sociais, precisamos do bote. E o oceano, bem, talvez ele também precise do bote. Precisa se comunicar com o que há na superfície. E o bote navega na superfície. O bote pode comunicar-se com a superfície, sabendo da amplitude e profundidade do oceano.

Ou seja, o bote é pequeno e frágil, mas essencial. O navegador precisa aprender as leis náuticas e formas de apresentação do oceano. Saber ler as estrelas. Saber contar com outros marujos, barcos e embarcações. Manter contato com o meio externo, sem nunca esquecer da profundidade e amplitude do meio interno.

O bote tem permissão para navegar no oceano. E tal trará muita experiencia, emoções de diversas cores e formatos, conhecimentos e crescimento. Talvez o bote aprenda um pouco sobre o oceano, mas nunca o dominará. Nunca o terá por inteiro. Ele é apenas um bote. Pequeno e frágil. E, mesmo assim, ele tem permissão para navegar sobre o oceano. Com humildade e abertura.

O oceano é o que é. Amplo, imenso, avassalador. Tempestuoso por vezes, manso outras. Variável. Em mudança. Em movimento. Ele é vida. E sobre a vida, podemos navegar...sabendo que, quando nosso barquinho não puder mais navegar, o oceano continuará...

( Capa do album "The Endless River" da banda britânica Pink Floyd)

2 comentários:

Eneas disse...

Creio que o percurso pode se tornar mais fácil se aprendermos a sentir o vento a favor,a calmaria da maré boa, as correntes que nos levam com menos resistência. Percebemos isso se focarmos na intuição de cada momento e não ficarmos só olhando para destino final desejado.

René Schubert disse...

Verdade Eneas - bem colocado, Grato!
O estar presente e em conexão com o aqui e agora...