“Na alma, nada se repete. Quem espera pela
repetição – por exemplo, de uma felicidade especial – perde o novo, porque toda
repetição é velha. O velho pode ser confortável, mas cansa. Somente o novo nos
mantém animados. ” Bert Hellinger
Não
raro, o que nos faz buscar um processo terapêutico é a percepção da repetição.
A percepção de um padrão que não nos faz bem, mas que segue sendo igual dia
após dia. É o sofrimento, velho conhecido, se apresentando, de novo.
O
“eterno retorno” - "Ewige Wiederkunft" - é descrito por Friedrich
Nietzsche na Filosofia. E muito antes dele, Aristóteles apontava: “Você é
aquilo que você repete continuamente. Excelência não é uma eventualidade – é um
hábito”. Mas qual a consciência que se tem deste hábito?
Diversos
pensadores apontaram a repetição, o padrão, o hábito, como o ciclo fechado em
si - que pode trazer equilíbrio, por sua estabilidade, organização e certa
previsibilidade, mas pode também trazer desequilíbrio, por sua alienação,
banalização e até auto-sabotagem.
O
conceito de compulsão e repetição aparece em Sigmund Freud, em 1914, no texto
"Recordar, repetir e elaborar" e significa a compulsão para trazer
algo de volta. A pessoa reproduz não como lembrança, mas como ação: uma
vivência traumática, um resto mnêmico carregado afetivamente, uma memória
celular, um padrão cultural-familiar (sistêmico), entre outros.
Por
meio da terapia sistêmica familiar foi percebido que muitas vezes nesta
repetição há lealdades sistêmicas invisíveis presentes. Estamos fazendo algo
por alguém. Resgatando um traço, trauma, “dívida” familiar que há muito aguarda
reconhecimento, solução.
O
padrão familiar é um traço de pertencimento ao sistema, mas também, por vezes,
de uma tarefa não realizada, que carece de reconhecimento - um lugar, um
perdão, uma reconciliação. Caso tal reconhecimento não seja realizado por uma
geração, o padrão associado a essa tarefa seguirá para próxima, e próxima, até
que ela seja enfim reconhecida, honrada e realizada.
O
padrão de repetição seguirá, de forma anestesiada no movimento igual, e
provavelmente com seus mesmos resultados, de mesmice, tédio, sofrimento,
cansaço, sensação de estar perdido no mesmo lugar e fracasso. Seguirá assim,
até que se lance luz sobre ele, ocorra uma tomada de consciência, a
diferenciação dos elementos, sensações, historias e crenças envolvidos, o que é
meu do que é do outro. Nesta elaboração repousa a possibilidade do novo advir.
Nas
palavras do músico brasileiro Cazuza: "Eu vejo o futuro repetir o passado.
Eu vejo um museu de grandes novidades. O tempo não para". A questão é,
como lidamos com este nosso tempo? O que nós fazemos com o tempo que temos? Pelos
nossos e por nós? Seguimos alienados de nós mesmos ou, talvez, com coragem,
despertamos para nós mesmos?
Perspectivas:
“o paciente não recorda coisa alguma do que esqueceu ou reprimiu, mas expressa-o pela atuação ou atua-o. Ele o reproduz não como lembrança, mas como ação; repete-o, sem, naturalmente, saber o que está repetindo”
“Recordar, repetir e elaborar” de Sigmund Freud
Referências para pesquisa:
Padrões repetitivos: reflexão. Jornal Zen – Coluna de
René Schubert. Ano 15, novembro 2019, N° 177
A repetição: um ciclo
fechado em si? (2011) - http://aconstelacaofamiliar.blogspot.com/2011/10/repeticao-um-ciclo-fechado-em-si.html
O poder do hábito -
Charles Duhigg. Editora Objetiva, 2012
O Efeito sombra -
Deepak Chopra, Debbie Ford e Marianne Williamson. Editora Lua de Papel, 2010
Documentário: O Efeito Sombra - The Shadow Effect - https://youtu.be/ArcQ9XTwym0
Documentário: O Efeito Sombra - The Shadow Effect - https://youtu.be/ArcQ9XTwym0
Recordar, Repetir e
Elaborar (1914) – Sigmund Freud, Editora Imago
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